domingo, 29 de novembro de 2009

o feirante é o novo pedreiro

antigamente, era muito fácil resolver problema de auto-estima: era só passar na frente de uma obra. inevitavelmente ouvíamos galanteios que faziam qualquer moça se sentir melhor. (o problema era quando o galanteador em questão resolvia fazer umas onomatopéias obscenas e altamente constrangedoras.)
mas os tempos mudaram. hoje em dia, o foco é a produtividade. toda obra que se preze é fechada por tapumes e tem uma placa dizendo: "estamos há x dias sem acidentes". ok, acho ótimo que ninguém caia do andaime nem fique soterrado em um alicerce, mas, puxa vida, cadê aquele pedreiro amigo que ficava ali, displicentemente encostado no poste, olhando o movimento e elogiando as passantes? não existe mais. os pedreiros precisam cumprir metas, ora.
tudo parecia perdido quando um belo dia, enquanto esperava o sinal abrir, de camisa florida, pastel e garapa em punho, ouvi: "moça, esse jardim já tem jardineiro?" me virei, surpresa, e dei de cara com um feirante. quer dizer, feirante não, era o rei das panelas! (ou, pelo menos, era isso que dizia a placa pregada na sua barraca). não resisti e mandei: "tem sim". e ele: "hmm, moço de sorte!" e eu, sonsinha, só pra ver o que ele respondia: "ai moço, entendi mal. ixi, num tem não!" e ele, imperturbável: "nossa, mas como, com esses olhos e esse sorriso!". bem nessa hora o farol abriu. uma pena, tive que interromper o galanteio e ir cuidar da vida. nesse dia trabalhei mais feliz, me diverti contando a história, enfim, foi ótimo pra mim. e fiquei pensando se já existe algum curso de extensão universitária em paquera. porque, se existir, o rei das panelas deve ser professor.