terça-feira, 17 de agosto de 2010

baden power

não, não vou falar aqui sobre o pai do escotismo - afinal, embora muitas moças tenham um fraco por rapazes fardados, esse não é meu caso. mas eu adoro música, e tenho uma simpatia especial pelos moços que tocam algum instrumento ou, simplesmente, apreciam música.
sábado passado, um frio de rachar, saíamos do aniversário da sobrinha quando D me perguntou: "e aí, vamos ao ibirapuera comprar ingressos pro show de hoje à noite?" eu nem sabia direito que show era (ele tinha comentado por alto), mas sabia que o repertório eram os afrosambas de baden e vinícius, então respondi ligeira: "vamos!"
tenho certeza de que se não tivéssemos comprado os ingressos antes nada ia nos tirar de casa naquele baita frio, e o sabadão ia terminar meio melancólico, tomado pela preguiça e por uma vaga frustração. mas compramos os últimos ingressos disponíveis e lá fomos nós. sentamos, as luzes se apagaram, os músicos entraram no palco e começaram. o canto de xangô foi sendo construído ali, na nossa frente, preenchendo o espaço, aquecendo, animando. quando chegou em berimbau eu até tirei o casaco!
no final do show a noite já nem estava tão fria, aquela molezinha natural pós festinha de criança (e muitas empadinhas, cachorros-quentes e brigadeiros) tinha ido embora e eu me sentia completamente feliz.
desde sábado a temperatura não subiu muito. o sol aparece às vezes, o que ajuda. mas agora eu tenho o cd que comprei na saída do show, e fico ouvindo o dia todo. se começo a me sentir meio entediada, com os pés gelados, cinzenta por dentro, levanto, danço, faço um alongamento, canto junto. contra frio, preguiça e desconforto em geral, baden power, eu recomendo.

ps: o show era o afrosambajazz, projeto de philippe baden powell e mario adnet, que fizeram arranjos de diversos afrosambas (alguns inéditos) para orquestra, com acento jazzístico. no palco, um monte de músicos da pesada mandando muito bem - inclusive um naipe de metais capaz de esquentar a sibéria.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

domingo à tarde, no pacaembu

eu sempre tive vontade de ir ao pacaembu. mas assistir ao corinthians e ter que comemorar caso os caras façam gol é fora de cogitação. então, já tinha me conformado com uma visita ao museu do futebol e pronto.
uma conjunção extraordinária de fatos mudou tudo: o santos começou a jogar lindamente, chegou a uma final de campeonato, e um santista entrou na minha vida. então, bingo! lá fui eu, feliz da vida, conhecer o glorioso estádio municipal paulo machado de carvalho e torcer pelos meninos da vila (não, eu não sou santista. mas prezo muito a harmonia conjugal.)
minha experiência em estádios se restringia às arquibancadas do morumbi, e achei o pacaembu um mimo! me senti quase dentro do campo e fiquei meio intimidada na hora de xingar o juiz (dava a impressão que ele não só ia ouvir como também ia me ver, ali, no meio do xingamento, e ia mandar a polícia me prender). como meu time não estava em campo, foi fácil manter a compostura.
estava tudo muito bem, eu saboreava tranquilamente meu churro (cujo único defeito era ser superfaturado), quando o santos começou a jogar muito mal. meu príncipe encantado começou a ficar tenso, fechou o tempo e quase vira sapo de vez ao mandar a pérola: "é nisso que dá trazer mulher no jogo, é o maior azar!" ai ai ai. onze caras jogando mal, embolando o meio de campo, e a culpa é minha?! dei um desconto, porque a gente sabe que em grupo as pessoas se comportam diferente de quando estão sozinhas, e só respondi: "mas eles estão jogando mal mesmo, têm que melhorar, ué. calma que vai dar tudo certo". nunca torci tanto para alguém fazer um gol como naquela hora. vai, neymar, faz alguma coisa! ganso, dá um chutão de longe, manda ver, o goleiro tá meio adiantado, encobre ele! robinho, solta essa bola e chuta! eu pensava, com fervor quase religioso. e nada, os meninos não estavam bem naquele dia.
o santos não venceu o jogo, mas foi campeão (ufa! ainda bem!). saímos contentes do estádio, fomos caminhando pra casa e fui promovida de pé frio a, sei lá, pé morno.
*
alguns jogos depois, comentei casualmente: "o neymar joga bem, mas é meio maleta", o que gerou uma onda de protestos indignados de D. ("como assim? o cara é um craque, é incrível, você tá é doída porque seu time não ganha nada faz tempo!") ô, coitado do meu time, nem sei a quantas ele anda, porque agora só vejo jogo do santos (como se sabe, controle remoto é coisa de homem. e eu nem tenho tv em casa). não continuei a conversa (a harmonia conjugal...), mas mantive minha opinião.
dias depois, a consagração. ouço D comentar com um amigo: "é o fim do mundo. minha namorada fica dando pitaco no futebol, critica o meu time e o pior é que ela tem razão!"

segunda-feira, 22 de março de 2010

voltas

assistir a esportes na televisão faz parte da vida a dois. pode ser um futebolzinho depois do almoço de domingo, o jogo de tênis pela manhã ou sei lá mais o que. em geral, encaro esse tipo de atividade tranquilamente (no caso do futebol até assisto também, se o jogo não for do corinthians, claro, porque aí nem é jogo...), mas tem uma modalidade que me tira do sério: o automobilismo. tem coisa mais chata que assistir corrida? domingão, o sol brilhando lá fora, e seu príncipe encantado abduzido, de olhos vidrados, na frente da televisão, vendo uns carros dando voltas. como assim?! a única coisa emocionante que pode acontecer em uma corrida é um acidente, mas isso ninguém quer que aconteça, acho. eu, pelo menos, não quero. e é aquela barulheira de motor de carro, aquela poluição, uma quantidade de pneus sendo trocados... ai, que aflição. não tem juiz pra xingar, ninguém faz gol, nem cesta, nem acrobacia. não tem nada de bonito ou poético pra ver - nem mesmo umas pernas bonitas, um corpão torneado. quer dizer, tem uma mulherada zanzando por ali, mas eu lá quero ver a mulherada? então são só os carros dando voltas, fazendo barulho, poluindo...
diz que os aficcionados do assunto ficam na maior curtição, sacando que o piloto mudou a marcha, freou etc e tal. eu prefiro ir dar umas voltas a pé e só chegar em casa, bem devagar, depois da corrida.

quarta-feira, 3 de março de 2010

a ameaça da circunferência

ninguém escapa. o tempo vai passando, a gente vai ficando mais sedentário, e ela vai se instalando. discreta em alguns, desabusada em outros, quase sempre ela chega pra ficar.
as mulheres ficam tensas, alguns homens mais vaidosos também: encolhem, disfarçam com as roupas, fazem dieta, partem pra lipo. mas conheço homens que ostentam suas barrigas com garbo, e não sem certo orgulho. venho me debruçando sobre essa diferença de postura (com o perdão do trocadilho) e só consigo pensar que se trata, mesmo, de uma saudável desencanação que nós, moças, ainda não aprendemos com nossos amigos rapazes.
não estou falando de obesidade mórbida. também não falo de desleixo (que não tem perdão), mas daquela barriguinha que aparece lá pelos trinta e poucos anos e que, segundo um amigo, não é gordura coisa nenhuma: é puro músculo, o panceps.
se é gordura ou músculo eu não sei. o que sei é que se olho pra um cara e ele não tem nem um tiquinho de barriga já fico ligada. se for um tipo magro, comprido, daqueles que nunca vão ter barriga na vida, tudo certo. mas se ele for daqueles que vivem na academia e só comem grelhado com salada já me dá uma preguiça danada. afinal, tem coisa menos inspiradora que grelhado com salada?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

o radar

é fato: os homens têm mesmo um radar que capta o movimento dos demais em torno de um objeto determinado - a saber, uma moça.
já havia evidências disso, mas a prova conclusiva veio ontem, em uma conversa entre amigas, depois de uma sessãozinha de vídeo com pipoca e brigadeiro. no debate que se seguiu ao filme, mediante a análise comparativa de diversos casos fictícios e reais, ficou provado (pra gente, pelo menos) que esse radar existe mesmo.
funciona assim: a moça tá lá, cuidando da vida. um belo dia, ela conhece um moço interessante, e lembra que a vida pode ficar ainda melhor quando se está bem acompanhada. investe, espia, espera, mas a história não vai adiante. isso se repete algumas vezes, até que ela desencana do assunto. interesse que não é recíproco não vinga. então, a vida vai seguindo seu rumo. a moça, sozinha, de vez em quando levanta a cabeça, olha ao redor e vê aquela vastidão, aquele horizonte… vazio. nadica de nada. e ela se pergunta: ué, cadê os caras interessantes?
até que um dia ela conhece um cara bacana mesmo. a princípio ela nem leva muita fé, mas ele vai se instalando no pensamento, no coração, na vida dela. e lá pelas tantas ela pára de pensar em prós e contras e teorias: simplesmente deixa ele se instalar de uma vez, e vai também fazendo parte da vida dele. nesse exato instante, os caras do passado resolvem ligar. o primo da amiga, que ela conheceu na festa, chama pra um cinema. o amigo do amigo, aquele bonitão do feriado na praia, convida pra ir no japonês. até aquele cara que parecia que ia dar o maior samba (mas acabou dando pra trás) reaparece, diretamente do além, todo solícito. a conclusão é uma só: eles sentiram o movimento do cara bacana se aproximando da moça e vieram conferir. só pode ser. portanto, o radar existe, funciona com alcance quase ilimitado, mas tem delay. c.q.d.

c.q.d. é a versão portuguesa da expressão latina quod erat demonstrandum (q.e.d.). significa "como se queria demonstrar" e é usada no final de demonstrações matemáticas quando se chega ao resultado pretendido. foi também a primeira sigla a ser usada nas comunicações telegráficas como sinal de alerta, tendo vindo a ser substituída por sos. (explicação retirada de http://c-q-d.blogspot.com/)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

lembra do estrelão?

se você nasceu na década de 70 e é menino, deve lembrar. pra quem não se lembra, vou explicar: estrelão era um tabuleiro de futebol de botão, que hoje em dia se chama xalingão. (acho xalingão um nome sensacional. tem muito mais cara de estádio de futebol do que brinco de ouro da princesa, por exemplo.)
nomes à parte, o fato é que quando meu amigo fez essa pergunta percebi que o tempo tá passando. certo, vejo as crianças crescendo, o prazo pra entregar aquele trabalho acabando, a hora do cinema passando... mas eu tinha a impressão de, misteriosamente, estar fora disso. faço aniversário todo ano, mas aniversário é aquele dia maravilhoso em que eu tento só fazer coisas legais e reunir os amigos (nunca pensei em aniversário como o dia em que eu fico um ano mais velha. pra mim, aniversário é um ano-novo particular, um dia festivo e cheio de esperança. é mais legal ainda que ano-novo, porque não é feriado e ninguém está de ressaca). o estrelão me fez entrar no ônibus do tempo e ir seguindo com ele.
*
ontem o dia estava conspirando mesmo pra eu me dar conta de que estou envelhecendo. pouco depois da fatídica pergunta, fui olhar meus emails. dei de cara com uma foto minha, um close de perfil que um amigo tirou no réveillon, e tudo que consegui ver foram os pés de galinha do meu olho esquerdo! (depois vi também as sardas e marcas na pele... ai...) quase levantei e fui direto pra farmácia, comprar um creme para a área dos olhos e um anti-rugas, e talvez também um clareador de manchas (nunca tive coragem de comprar essas coisas, porque tenho o hábito de ler a composição. são letrinhas miúdas com nomes compridos cheios de x, y e z. tenho medo de usar e acordar sem cara no dia seguinte). então olhei melhor: vi que meu perfil é parecido com o da minha mãe, também tem algo do meu pai, mas sou eu mesma que estou ali, sorrindo. e achei que tá bom assim. é muito melhor estar dentro do ônibus, em movimento, do que ficar parada no ponto, esperando. ainda mais em pleno domingo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

retífica são francisco

cabeçote
virabr
biela
cam
passei pela placa, muito rápido. final de dezembro, cansada às sete horas da manhã. achei que estava delirando. no dia seguinte o semáforo fechou na hora certa e anotei no caderninho:

cabeçote
virabrequim
biela
cambagem

uau. me senti em budapeste: eu até juntava as letras, conseguia ler, mas nada fazia sentido. (intuí que cabeçote, virabrequim e biela eram peças do motor. mas o que seria cambagem?)

no terceiro dia consegui ler a última linha:
recondicionamos todos os motores.
e pensei: quando tiver um tempinho é aqui que eu venho, pra me ajeitar pro ano que vem.